quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Quando o dever de casa se torna um problema.


Na caderneta da filha um bilhete chamando para conversar. Dona Telma se assusta, afinal sua menina sempre demonstrou uma personalidade tranquila e obediente. O que será? Pensou com preocupação. O pior é que era sexta-feira e teria que esperar até segunda-feira para saber. – Bom! O melhor é relaxar já que Joana não soube ou não quis explicar o motivo. Falou para si mesma e esqueceu. Segunda-feira dona Telma ansiosa vai à reunião com a orientadora pedagógica da escola e com surpresa ouve dela que a sua Joana não fazia os deveres de casa e que isso a estava prejudicando muito, tanto no ideal entendimento dos conteúdos, quanto em notas, pois eram pontos complementares na média. 

 Dona Telma ficou envergonhada ao ouvir da orientadora a indagação sobre a sua fiscalização e ao seu acompanhamento nos estudos da filha e também sobre a falta da presença dela nas reuniões da escola que contribuiu para que não estivesse ciente do fato. 

 Dona Telma trabalhava muito e não tinha tempo para as reuniões da escola, mas sempre esteve de olho nos boletins, onde observava as notas da filha que sempre eram azuis. (Na verdade o que preocupava a professora de Joana era o mau exemplo que ela dava aos colegas). 

 Este é um exemplo que podemos ver constantemente na realidade escolar e que nos faz refletir. O dever de casa é ou não é essencial para o bom andamento no rendimento escolar? Devemos analisar com carinho. 

Tenho esse exemplo em casa com minha filha mais nova e eu como professora, pedagoga e experiente na realidade educacional tenho as minhas dúvidas, pois minha filha sempre foi uma ótima aluna e não fazia os deveres de casa. Confesso que relaxei em não fazer pressão quando ela se recusava a realizar as tarefas de casa e eu debatia com os professores nas reuniões bimestrais em defesa de minha filha. Ela era uma ótima aluna, portanto na minha cabeça não iria forçar uma coisa que poderia fazer com que ela adquirisse aversão aos estudos. Posso dizer, que por outro lado, estimular esse comportamento não foi bom para ela, pois no ensino secundário técnico em uma escola com índice de cobrança rigorosa, o fato dela não ter a disciplina dos estudos, já que os deveres de casa “forçam” um estudo, fez com que ela, pelo menos no começo, tivesse bastante dificuldade de adaptação na rotina dessa nova realidade onde os alunos literalmente precisam completar os estudos dos conteúdos em casa. 

 Esses exemplos são apenas uma maneira de se refletir sobre a obrigatoriedade em fazer ou não os deveres de casa. Penso que muitas vezes os deveres de casa estão mais para preencher a lacuna que fica no ensino das matérias, já que quase sempre elas ficam falhas na prática docente  (porque não dá tempo ou porque o professor não dá conta mesmo) e que também servem para “forçar” o aluno a rever a matéria complementando os estudos. 

 Se a didática do professor for pobre e pouco criativa, os deveres de casa falham por se tornarem maçantes numa rotina infeliz nos estudos dos alunos, que por vezes colam dos colegas as respostas e que quando corrigidas em sala de aula, raras vezes são enriquecidas numa explicação complementar e agradável. Muitas vezes os deveres de casa são repetitivos e retirados de materiais ultrapassados, fora da realidade do aluno.  

Geralmente o dever de casa não é visto como uma tarefa chata quando ele está numa rotina de estudo no sentido de revisão do que foi aprendido, pois assim ele funciona como forma importante de gatilho para uma disciplina de estudo, principalmente quando é didaticamente interessante através de pesquisas e tarefas agradáveis que fazem o aluno pensar, criar e interpretar. 

 Quando o dever de casa é visto como um ato maçante que só serve para que o aluno responda questões enormes ou leiam textos longos e pouco interessantes, faz com que o aluno assimile o momento que dedica ao dever de casa como perda de tempo, onde ele poderia estar brincando ou fazendo alguma coisa de que goste causando uma rejeição, principalmente ao ser cobrado de forma pouco compreensiva. 

O aluno deve compreender a importância daquela tarefa para as suas conquistas futuras. Essa orientação cabe tanto aos professores, quanto aos responsáveis. Cabe aos professores a escolha do material didático onde os deveres de casa estão inseridos e também cabe ao professor não fazer do dever de casa o substituto do seu dever em ensinar, pois ele deve ser um complemento do ensino e não o ensino em si e cabe aos responsáveis orientar quanto a importância de se ter uma disciplina de estudo criando responsabilidade na criança para que ao ser cobrada futuramente tanto do lado profissional, quanto do lado social, nas rotinas exigidas pela vida, ela não encare com dificuldade,  mas sim tenha certeza que pode ser encarada de forma agradável e normal.

Quando o professor adere ao “cuspe e giz” ele finge que ensina e dessa forma o aluno finge que faz o dever dando por consequência uma aprendizagem falseada. Aos pais posso dizer que o dever de casa é importante na criação da rotina de estudos e que o acompanhamento feito por eles é de extrema importância, mas sem estresse já que aprender deve ser agradável e não uma tortura. 

Muitas vezes o psicopedagogo se depara com problemas que os alunos levam para o consultório e que na verdade são apenas crianças indisciplinadas e mal orientadas que por consequência não aprenderam a gostar de aprender gerando “falsos problemas” que basta um olhar mais apurado para perceber que o “help” daquele aluno é por uma orientação positiva que o impulsione para frente no sabor delicioso que é a conquista do saber. 



 Valéria Ribeiro

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