terça-feira, 26 de abril de 2011

Qual é a realidade daquilo que percebemos? Sofrimento ou opção?



Bons momentos para todos!

Olá pessoal! Estava com saudades, mas estava viajando e aprendendo mais um pouquinho com a vida para poder dividir com vocês.
Hoje gostaria de falar um pouquinho sobre as escolhas que fazemos em nossas vidas e o quanto isso é importante em se observar.
Fui fazer uma excursão no feriado. Foi uma excursão muito rica e bastante proveitosa. O lugar que fui visitar me enriqueceu bastante em experiências e muitas coisas que vi me comoveram e me envolveram. Vi velhinhos em asilos, doentes em hospitais, desequilibrados em sanatórios, crianças em orfanatos. Vi a caridade pura, a alegria no servir e a curiosidade humana em volta. Mas, o que mais me tocou profundamente foi ver que ainda mais que avançamos em ciência, tecnologia, recursos e procedimentos humanitários, não nos livramos dos equívocos das escolhas. Apesar de tudo ainda escolhemos o sofrimento em detrimento das oportunidades que sempre nos rodeiam. Muitas vezes essas escolhas estão apoiadas na ignorância em que tais indivíduos são submetidos e “doutrinados” sendo levados àquela situação por puro desânimo em avançar no esforço pela mudança. Mas o que tem isso tudo a ver? Vocês provavelmente estão perguntando.
E respondendo digo: Tudo! Baseado nas experiências vividas por mim nesta viagem, cuja uma das mais marcante, foi verificar na calçada próximo ao lugar em que fui visitar, uma mãe com três filhos mendigando para aquelas pessoas que ali chegavam.
A mãe sentada no chão com uma criança pequena no colo, afastada dela na outra extremidade do muro próximo ao portão de entrada outra criança em pé e mais adiante, quase na esquina, um menino mais velho. Todos com as mãos estendidas a pedir. Observei ao entrar e na primeira oportunidade que tive fui conversar com eles.
Chamei a menina que veio ressabiada a se juntar conosco, mas o menino estava mais distante e não se aproximou. A mãe com a criança no colo estava visivelmente em estado de ressaca e fumava um cigarro já quase na guimba. A criança menor que achei que tinha uns dois anos no máximo, na verdade tinha três para quatro e a maiorzinha que perguntei se tinha cinco me informou que estava com sete anos, consequencia da má alimentação e descuidos. O menino não perguntei, mas deveria ter uns dez se não me enganava mais uma vez. Todos estavam muito sujos, mas reparei que era uma sujeira opcional (se é que dá para entender), não tinham calçados, os cabelos bastante despenteados, a criança no colo estava com xixi nas calças e a mais velha apresentava os cabelos compridos até a cintura que possivelmente nunca tinham sido penteados. Quando a mãe sorriu para mim reparei que os quatro dentes da frente eram de ouro (revestidos) estranho que aquilo não me chamou a atenção. Mais tarde fiquei sabendo que eram ciganos, mas não confirmei essa informação. Conversei com eles alguns instantes ajudando como pude e recomendando bastante aquela mãe com relação às crianças. Ela me disse que tinha vindo de Goiás e eu lhe disse que tinha nascido lá. Ela falou que estava na casa de uma tia doente e que passavam por muitas dificuldades. Pareceu-me que estava grávida num momento em que se levantou e apresentou uma barriga avantajada cuja informação foi que estava com “gases” quando lhe perguntei a respeito. Quando lhe recomendei que comprasse comida para as crianças, a menor logo foi dizendo 
– Comprar guaraná! E eu disse: - Não, é para comprar leitinho e ela respondeu: - Para fazer mamar? Fiquei extremamente condoída, pois foi me parecendo clara a situação daquelas crianças e daquela mãe. Situação opcional diante das opções da vida. Mendigar também é uma opção de vida, que embora para alguns possa parecer difícil, para muitos é mais fácil. 
Aquela mãe provavelmente veio de uma situação semelhante e foi passando para a suas crias essa realidade. Mas, reparei as feições tristes da menina e a sua preocupação quando ofertei algum dinheiro para a mãe. Provavelmente a última coisa que sairia dali seria o alimento saudável. Despedimo-nos e nos desejamos felicidades. Senti um olhar de súplica da menina mais velha. Mesmo assim, voltei para onde estava e para os objetivos do passeio. Quando nosso grupo foi embora ainda pude da janela do ônibus observar aquela família a qual  nada sabia além de pouquíssimas informações e não avistei a menininha menor me deixando bastante preocupada se acaso a mãe não teria “dado” ela para alguém, pois tinha muitas pessoas em excursões naquele lugar. Reavaliei minhas expectativas com relação às minhas crianças que foram criadas com amor e cuidados. Lembrei-me daquelas crianças em responsabilidade daquela mulher e quem sabe mais quem. Na verdade não tenho certeza se eram seus filhos, pois tinham tipos físicos diferentes não definindo uma feição familiar com aquela mulher.
Volto a dizer que temos nossas opções de vida e muitas vezes o que nos parece sofrido é recebido como forma de vida por muitos. Sem querer julgar ninguém e sabedora das dificuldades da vida, mas também consciente do poder do nosso livre arbítrio olho o horizonte das possibilidades humanas e me pergunto: Por que valorizamos, baseados em nossas emoções, aquilo que vemos e não entendemos por ser mais fácil para nós percebermos o que nos é “feio” como digno de pena? O quadro interpretado por nós e valorizado pela paisagem nos demonstra aquilo que queremos ver e reagimos naquilo que queremos negar. Na verdade me transferi para aquela família espelhando minha situação enquanto adotada tendo pena de mim mesma me colocando no lugar daquelas crianças e ao mesmo tempo fazendo uma análise do que seria melhor para mim. Sofrer por opção ou sofrer sem escolha? O que é melhor?
Muita paz e muito amor para vocês. Valéria Ribeiro.

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